Friday, November 04, 2005

Mística


A mística está para o futebol como as sandes de courato estão para as festas da Moita. Entendido? Passemos à explicação. O que é a mística? Sim, o que é a mística? É uma coisa que se apanha nalguns balneários. Mística é os jogadores mais novos lavarem as costas dos jogadores mais velhos e fazerem-lhes recados: “olha, vai-me comprar um maço de Português Suave”.

Um grande teórico da mística, provavelmente o mais místico de todos os teóricos místicos, à excepção dos eremitas místicos do Séc. IV, afirmou que “aquilo a que se chama mística poderia, com toda a propriedade, chamar-se doping, no bom sentido do termo”.

Antes do início da partida os jogadores formam um círculo. Baixam as cabeças. O que dizem? Não interessa. É isso a mística. Falam línguas? Estão a combinar quem é que vai buscar as putas ao hotel? Recitam versículos bíblicos? Contam anedotas? Confessam que se não apanharem uma goleada já não é mau? O que interessam as palavras, afinal?
A mística baseia-se em factores de difícil quantificação e inacessíveis ao intelecto cujo olfacto nunca tenha sentido a atmosfera de um balneário no final de um jogo de futebol. Não há mirra, incenso ou Brise Verde Pinho que predisponha tanto o ser humano para a meditação, concentração e simulação de faltas no limite da grande área como aquela mistura de sovacos, virilhas, peidos, prepúcios, peúgas e vapor que transformam o balneário no tabernáculo da glória desportiva.
Um quadro de São Sebastião, uma fotografia da Santa Teresa de Bernini, um escapulário para cada jogador com a imagem do Nelo ou, em alternativa, uma do Tavares. Meus amigos, a mística é isso.

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