Sunday, November 06, 2005

O cabeceamento-como-mandam-as-regras


O cabeceamento feito como mandam as regras é de cima para baixo. Esta regra teve origem num famoso lance de um jogo entre amadores no Nordeste de Inglaterra, no Século XIX. John Hartsley, avançado tal como mais nove companheiros de equipa, tentou cabecear a bola de baixo para cima e acabou sem os dentes da frente e com o nariz tão deformado que após a sua morte um crítico de arte tentou expô-lo em diversos museus como obra precursora do cubismo.

Correntes


Os grandes futebolistas não são apenas executantes exímios da arte do pontapé na bola. Os grandes futebolistas são, e é bom que se diga isto, correntes de pensamento.

Friday, November 04, 2005

Mística


A mística está para o futebol como as sandes de courato estão para as festas da Moita. Entendido? Passemos à explicação. O que é a mística? Sim, o que é a mística? É uma coisa que se apanha nalguns balneários. Mística é os jogadores mais novos lavarem as costas dos jogadores mais velhos e fazerem-lhes recados: “olha, vai-me comprar um maço de Português Suave”.

Um grande teórico da mística, provavelmente o mais místico de todos os teóricos místicos, à excepção dos eremitas místicos do Séc. IV, afirmou que “aquilo a que se chama mística poderia, com toda a propriedade, chamar-se doping, no bom sentido do termo”.

Antes do início da partida os jogadores formam um círculo. Baixam as cabeças. O que dizem? Não interessa. É isso a mística. Falam línguas? Estão a combinar quem é que vai buscar as putas ao hotel? Recitam versículos bíblicos? Contam anedotas? Confessam que se não apanharem uma goleada já não é mau? O que interessam as palavras, afinal?
A mística baseia-se em factores de difícil quantificação e inacessíveis ao intelecto cujo olfacto nunca tenha sentido a atmosfera de um balneário no final de um jogo de futebol. Não há mirra, incenso ou Brise Verde Pinho que predisponha tanto o ser humano para a meditação, concentração e simulação de faltas no limite da grande área como aquela mistura de sovacos, virilhas, peidos, prepúcios, peúgas e vapor que transformam o balneário no tabernáculo da glória desportiva.
Um quadro de São Sebastião, uma fotografia da Santa Teresa de Bernini, um escapulário para cada jogador com a imagem do Nelo ou, em alternativa, uma do Tavares. Meus amigos, a mística é isso.

Vilarinho


Prolegómenos a toda a metafísica e passes de calcanhar futuros

Foi Marguerite Duras que escreveu “quando paro de beber só me apetece ver futebol”? Não sei. Talvez tenha sido Manuel Vilarinho, embora os méritos literários deste não fiquem aquém dos dotes alcoólicos daquela, ou vice-versa. Manuel Vilarinho inventou o lateral moderno? Mais uma vez não sei responder. Mas era bom que alguém com mais tempo e outra capacidade de abordagem hermenêutica, epistemológica e de fígado se dedicasse ao assunto. Manuel Vilarinho representou uma era de inigualável prosperidade na agremiação desportiva Sport Lisboa e Benfica. A afirmação é falsa? Pode ser que sim mas a história é escrita pelos vencedores e por todos aqueles que, apesar de não se incluírem no rol de vencedores, têm bons contactos no mundo editorial. Manuel Vilarinho foi e será sempre o que ele quiser. E o que é que ele quer? Não sei. Justiça seja feita a Vilarinho e a todos os que contribuíram para o desenvolvimento das coisas.

O Perfeito Guarda-Redes Imperfeito



Seria composto por três partes iguais de:

Silvino Louro (a defender livres);
Neno (a sair-se aos cantos);
Ricardo (onde se inclui o seu comportamento num raio de 600 metros à volta da baliza, ou seja, até à sala de imprensa).
Estes resultados foram obtidos num estudo dirigido por professores do IST , com a colaboração do Centro de Análises Clínicas da Reboleira, que efectuou a recolha de amostras de cabelo, urina, sangue e luvas de mais de 150 guarda-redes portugueses, estrangeiros e da agremiação desportiva Sporting Clube de Portugal.

Centro-Remate

A Mecânica é o ramo da Física que estuda o modo como as forças actuam sobre os objectos. A metafísica é outra coisa. Estuda o modo como forças que ninguém sabe ao certo se existem e, no caso de existirem, que restaurantes frequentam, actuam sobre objectos comuns como colheres, pratos rasos e bolas Adidas Tango.

A disciplina que estuda a marcação de livres por parte do jogador Petit, da agremiação desportiva Sport Lisboa e Benfica, é a parapsicologia, onde também se estudam fenómenos espíritas, ovnis e o cabelo do Abel Xavier.

Então, quem estuda o centro-remate? Defino centro-remate: centro-remate é um cruzamento falhado que, por intervenção de forças obscuras, ganha vida própria e se transforma num remate, causando dessa forma muitos problemas para o guarda-redes e para o autor do centro-remate que começa logo a pensar no que vai dizer aos jornalistas. A questão é: qual o grau de intencionalidade no centro-remate? Conseguirá um jogador imprimir um efeito à bola que a leve descrever uma trajectória que, no início, se assemelha a um passe do Beto e que, a meio, começa a zidanear?

Estamos no domínio da metafísica e da parapsicologia. À intersecção das duas disciplinas chamarei “jornalismo desportivo”.

Cabe ao jornalista desportivo aferir do grau de intencionalidade no centro-remate. É um trabalho colectivo que requer a colaboração de um jornalista com carteira profissional, o narrador, e um exegeta, o comentador, habitualmente um ex-jogador, um treinador no desemprego ou, a súmula dos dois, o Humberto Coelho. Poderá registar-se a intervenção de um terceiro elemento, o repórter de campo. Cabe a este a análise empírica visto ser o elemento mais próximo do rectângulo de jogo. É-lhe útil formação em Antropologia e alguma destreza física. É provável que esteja a recibos verdes.

São famosas as discussões sobre a intencionalidade do centro-remate. José Nicolau de Melo, um narrador clássico, foi um dos maiores defensores da intencionalidade no centro-remate desde que o chutador representasse a agremiação desportiva Futebol Clube do Porto. Para Nicolau de Melo, como se pode ler no seu brilhante estudo “Guarda-redes para um lado, bola para o outro – a angústia da bola nos pés de Paulinho Santos”, entre Madjer e André, entre Deco e Vinha, não há nenhuma diferença substancial. Todos os centros-remate saídos daqueles pés eram intencionalíssimos. Trata-se de um ponto de partida científico bastante criticável mas que Nicolau de Melo defendeu com brilhantismo em transmissões que temos o privilégio de poder rever na RTP Mamória.

Contra a intencionalidade estão os seguidores da escola fundada por Gabriel Alves, os cépticos da 5 de Outubro, dignos descendentes de Hume. Para estes um centro-remate não pode, por definição, ser intencional. Aliás, para estes teóricos, quanto menos intencional mais centro-remate. Ou como tão bem expôs Gabriel Alves: “oh!”.

Anda um pai a criar um filho...


Valencia-Málaga 88' Ruben Baraja comes off, he's knackered, and Newcastle flop Hugo Viana comes on in his place.

Site da Eurosport

Thursday, November 03, 2005

O drama do avançado moderno


É que aos 18 anos ainda não sabe se tem jeito para a bola.